domingo, 24 de novembro de 2013

Decadência

Cruzei os braços e esperei pela batida
Esperei o coração parar e secar cada gota de suor do meu corpo
Aguardei o óbvio
Semeei a ganância acima de tudo. tracei planos opostos ao meu ser
Coloquei minhas ambições acima do meu caráter

Caí, destruí o sorriso que fora cativado por tanto tempo para que não fosse mascarado
Não há facilidade no agir coeso
Não há esperança em uma vida totalmente planejada. É tão difícil alcançar o fim, mesmo que eu busque a cada manhã
Nessa insana busca pela perfeição, coagi meus desejos e cada traço de esperança riscado em minhas mãos calejadas

Trabalho, é só o que mantém vivo
Movimento em cada momento, é o que lhe peço. Aguentem pernas, aguentem o mundo que as espera!
Caminhar sem rumo tornou-se parte da minha essência
Será que procuro uma solução, ou reflito apenas para encontrar uma maneira mais fácil de destruir cada memória?
Já nem sei mais, tudo tornou-se mistério. 
Tudo que eu havia criado estava jogado, pisoteado e destruído aos teus pés.

Mal consigo imaginar o que é a felicidade. Estado de espírito ou apenas uma gargalhada forçada após uma sessão de desespero?
Permanecerei esperando pela solução, ou pela desgraça, que seja. 
Eu, mais um gole de veneno e uns cigarros amassados. 
Até o fim, assim será.

- Rodrigo Neves

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sensualize-me

Meia-noite. Os ventos uivam à janela
Tudo sem cor, sem vida
Tudo é esquecido, e segue-se a sequência prevista dos fatos.
Mais uma noite. O calor me traz o frio. Sim, contradições me definem, no agora
E o arrepio na pele que dá
O tremor das mãos
O ranger dos dentes
O barulho
O nosso barulho!

Teu sorriso de desejo e tuas garras afiadas penetrando minha pele, enquanto celebramos a magia do calor de nossos corpos

Oh, doce menina, leva-me ao orgasmo mais profundo, novamente
Rasgue meus sonhos como fez àquela ocasião, com o bilhete que lhe dei
Lembra-se? Eu e você, naquele jantar, à luz de velas... Naquela noite te prometi minha solidão, então lembra-te com gosto!

Não esqueças-te do mel, que corria por teus lábios, colava em tua pele e matava cada pedacinho meu

Ah peste! suculenta aos olhos de quem vê, porém, venenosa e maléfica à quem te toca.
Oh amor! sonho vívido e cheio de brilho que consome minhas entranhas em mais um ritual de autodestruição, gargalhadas em vão, notas de cem enroladas e jogadas pelo quarto.

Quero tuas mãos me acariciando, julgando cada centímetro do meu corpo, em vão

Jogando-me ao mausoléu da solidão
Criando em mim uma necessidade extrema de ser amado e odiado, de ser devorado por teus olhos claros que não me expõem ideia alguma

Deixe-me sorrir, por favor, é meu último pedido

Deixe-me sorrir ao te sentir, massageando meu ego e destruindo meu futuro
Venha amor, sente-se sobre meus anseios e morda meu pescoço, quebre do meu corpo cada osso
Deixe-me com um pouquinho mais desse sabor insosso, chamado solidão.

- Rodrigo Neves

domingo, 10 de novembro de 2013

Revela-te

É como sentir-se mal por algo que nunca fez parte de você
Sentir falta de alguém que nunca lhe pertenceu, nem aos teus sonhos
É como morrer a cada dia, aos prantos, tentando entender a jogada dada, satisfatória no acaso, mas que lhe tira o sono nas últimas noites

Imaginar teus traços colados nos meus, tuas curvas deslizando por entre meus afagos

Ah, solidão! deixe-me senti-la
Deixe-me sem ti
Deixe-me sentir
Deixe-me à mim mesmo, imaginando, sonhando, tentando realizar o impossível, deitado nesta cama que me abraça e me enrola em um tufão de pensamentos ruins, seguido de pensamentos insatisfatórios à respeito da humanidade que se consome à cada segundo
Ai de mim! ai de mim sem ti, ai de ti sem mim
Ai do mundo, sem um alguém, do porque sem um porém

Sentimentos, pensamentos, tudo que me convém nos instantes de insanidade e sede
Ai de mim, te esperando aqui, deitado no chão do quarto, enquanto o sol não vem.


- Rodrigo Neves

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Tempo

E nem tuas lágrimas foram suficientes para me fazer parar
Você pediu
Você implorou
Me deu mais uma chance e mesmo assim nada feito
Tentou encaixar as peças desta quebra-cabeças sem imagem, espalhadas pela mesa

Fatídico era o dia
O beijo, doce sabor de veneno e morte que me assolariam anos após o fato
Organizei toda a bagagem, joguei ao canto esquerdo do quarto, naquela parede surrada, repleta de histórias vividas ali
Deixei as lágrimas fugirem, afinal, eu permaneceria preso, por tempo indeterminado

Eu acatei a ordem
Procurei teu semblante naquela mesma esquina que combinei de encontrar-te
Tomei o último gole
Esperei por algum tempo
E parti
Para longe, o alvo sem foco, a tentativa e a possibilidade

E eu falhei

- Rodrigo Neves

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Madrugada

Sorria, eu estou aqui
Não me deixes, lhe imploro, deixe-me permanecer

Por mais que meus atos impuros e destrutivos tenham acabado com tua esperança
Mesmo que meu sorriso amarelo acabe com tua auto-confiança
E que aquela música lhe faça chorar ao recordar de quando sorríamos feito crianças
Imploro que não me atire pedras, deixe-me permanecer em tuas lembranças.

Tua beleza estonteante, que um dia deixei fugir por entre meus dedos, permanecerá atrelada ao lado esquerdo desta escultura de carne e ossos, até o fim dos tempos.

- Rodrigo Neves

Desabafo

Pontapés me vinham de encontro à face
Facas jogadas em minha direção que rasgavam minha carne e meu orgulho em demasia
Me senti traído por meus sentidos, jogado ao relento, sem direito a um beijo de adeus.
Imaginei finais felizes demais para uma realidade tão sedenta de morte
Desejei beijos, abraços e uma tarde de verão, sentados ali, à beira do lago, colorindo os riscos do céu e nutrindo nosso desejo de paz interior.

Pensei, em meio às trocentas latas e garrafas jogadas ali no canto do quarto, quão belo seria estar ali.
Em meio aos meus maços de cigarro, amassados, busquei sabedoria 
Tentei entender o porque da distância, o porque da vontade, e o resultado foi deprimente
Apenas mais cigarros e uma gana maldita de solucionar esse gracejo da vida.

Meu grunhido não irá mais perturbar suas noites, princesa
Meus afagos e palavras ridículas não atingirão mais os teus pés
Minha barba mal feita não tocará tua pele macia, nem ferirá teu ego, muito menos teu reflexo à margem do rio
Só me resta perguntar-lhe, doçura, ainda farei parte de ti no café da manhã?

- Rodrigo Neves