segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Sucumbir

Malditos hipócritas, celebram algo inexistente e sem coesão alguma.
Desejo carne podre e bebidas vencidas para condizer com a falsidade de cada um presente.
Não sairei da cama, ao menos não pretendo.
Vejo a necessidade de fumaça densa e chamas, destruindo e dilacerando o espírito vago.
Natal, aniversário, ano novo, datas tão fúteis e ridículas, ao meu ver.
Odeio o mês de dezembro, odeio minha vida, e por segundos, finjo um sorriso no rosto, e tento anexar um passado distante em meu semblante.
Não vejo felicidade, muito menos a necessidade da mesma. Quero um fim, espero que esteja próximo e que não venha vagarosa, mas sim dolorosamente.
Salvem-se, corram para longe, tentem salvar os resquícios ridículos de vida e falsidade, que os sucumbem em um mar de desilusão.
Desejo a morte, uma garrafa pela metade, embriaguez, sono, solidão.

- Rodrigo Neves

domingo, 23 de dezembro de 2012

Dois Mil e Doze

Procurei em mim uma força absurda, tentei não sucumbir aos fatos, não chorar as mágoas perante terceiros. Corri durante horas, em círculos, neste bairro vazio, onde ninguém exige, conhece ou vive.
Desvendei mistérios demais pra uma vida tão curta, chorei sentenças e fatos nada arbitrários, sorri por motivos vagos e morri em cada sugestão
Busquei-me em cada esquina, arriscando-me a cada passo, com medo do resultado.
A sequência de fatos, caro leitor, é de profunda depressão, em meio aos sorrisos amarelados que esvaem-se de mim.
Nada importa, nada satisfaz ou cobre os vazios de tua mente, tua necessidade de sorrir mais que a mim é repugnante e corta-me os pulsos a cada abertura singela de tua boca.
Rasgue minha carne, use meus restos como lhe soar melhor. Ria da minha face, e chore ao anoitecer, com as lembranças mais pútridas, tais como, eu lhe prometer assistir cada pôr-do-sol à beira da praia.
Quebre as correntes e desate os nós, me odeie e elogie-me, subitamente, falsamente, hipocritamente, em cada encontro. E que cada desencontro seja de extremo fervor, porque odiar, é parte constante do meu novo ser, aquele que você ajudou a ser criado.

- Rodrigo Neves

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Estima

Sinto-me revigorado. 
A aparição de algo tão substancial, como o amor, algo deveras laborioso e até dias atrás quase abdicado de mim, por mim mesmo, faz-me esquivar ao sofrimento, talhando em mim expectativas, não antes conjecturadas. Cada troca de olhares, a vivacidade dos abraços subtraídos e nossos corpos quentes, em um tributo a Afrodite, aduzem-me a paz, fazendo-me escravo teu, amor.
Cria-me em Platão, faz-me gozar da vida como em um ritual de prazer e auto-destruição, conjugados.
Não ouse fugir, não ouse tentar omitir teus sentimentos, pois deles, faço-me vida, e em cada partida, instrua-me à força, em um caminho indolor, de pedras preciosas. Seja minha amante, o perfume que corre pelos meus órgãos, a semente que me planta ao ventre. Seja minha, seja tudo, faça-me vivo.

- Rodrigo Neves

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Pó e Cinzas

Enrolei o papel sujo e úmido, o introduzi em minha narina esquerda, segui os rastros deixados pelos demônios mais infames, em cima daquela mesa.
Em questão de segundos, minha visão tornou-se abstrata, obtive uma cura rápida e indolor para meus problemas. Escondido ali, afoito, com medo dos passos e das vozes, com meu reflexo pálido, no chão reluzente e bem encerado, eu tremia.
Onde está você, irmão? Preciso de ti.
Continuo esperando aqui, encaixotado dentro de meus maiores medos, trancafiado em uma jaula repleta de sofrimento e sangue. Salve-me! eu lhe peço com fervor, encarecidamente, aos prantos, salve-me!  Antes que seja tarde demais, antes que a pele branca torne-se apenas carne putrefata.
Salve-me!
Eu caí, mas esperarei ansiosamente aqui, dentro desta vala suja e repleta de corpos, pela tua ajuda.
Salve-me! Meu irmão.

- Rodrigo Neves

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Devaneio

Não! Não pretendo alcançar a morte, menos ainda esquecimento. Almejarei apenas sabedoria e desprezo.
Tua voz trêmula e teus argumentos de faixada não me convencem mais! Porra! Desisto de tentar entender o contexto, muito menos irei vivê-lo na busca de um final feliz.
Enquanto esta noite, em algum campo arborizado, você desfila, em seu vestido de gala, esbanjando graça, escondendo suas fraquezas e fugindo de si mesma, eu continuo andando pela casa e tomando doses cavalares de café.
Desejo-lhe comemorações, uma garrafa de champanhe cara, morta pela metade, um novo amor e um sorriso espontâneo. Pretendo permanecer estático perante tal conto infantil, denominado amor.
Desejo que teu tormento continue maquiado, fingindo ter e ser, mas sofrer, ao rodear diversas vezes o espelho ao me procurar, e ver que parti.
Fugiu
Esqueceu, Esvaiu-se e se perdeu em uma bolha de orgulho.
Seu rosto, em minhas lembranças, já não me serve de consolo, serve-me de inspiração para tramar mais uma batalha odiosa e repugnante dentro de meus pensamentos, enquanto o sangue fresco preenche os recipientes, cautelosamente, colocados sobre a mesa.
Desejo-te longe, afasta-te de mim, por obséquio, preciso reaprender a odiar.

- Rodrigo Neves

Rabiscos

E quando ouvirdes de minha boca, palavras que soam suaves, mas ecoam firme e incessantemente por teus ouvidos, seja cautelosa.
Tenha medo dos meus olhares vagos, e mais medo ainda quando eu lhe olhar fixamente, por horas, matando teu livre arbítrio apenas utilizando-me de minha existência. Não cederei mais aos teus caprichos, muito menos a tua carne. Nossos pecados, antes vangloriados, serão motivo de minha decadência, e tua feição ridícula e doce, servirão-me de assombro.

Ódio, atitudes duvidosas e decepcionantes.
Ópio, há de me livrar completamente da tua não-afeição, programada em versos.
Ócio, aproximação do descaso, insatisfação ao lembrar como contemplava-me com tuas palavras de incentivo.
Ósmio, nossas moléculas foram dizimadas ao longo do processo.
Ósseo, minha carne se desfaz, em meio a espera, por dimensões não tão aleatórias e sem nexo.

Cabisbaixo, retraído.
Sinto-me incapaz, totalmente traído.
O desejo de algo e, ou, um alguém, torna-se mais uma frase em meio a tantas perdidas em minhas anotações. Pudestes fazer tal gentileza ao denegrir e ferir-me perante o espelho. Tenha dignidade, traga-me um corretivo, hei de mudar o traçado das linhas.

- Rodrigo Neves

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Parabéns!

Decisões
Distância
Realizações, não tão palpáveis
Destruição em questão de segundos
Eu, a brisa do mar, uma garrafa de whisky e meus remédios.
Indolor, limpo, surreal.
Mais uma parabenização falsa vem, e com ela, novamente, a vontade de morrer.

- Rodrigo Neves

Vegetal

Meus olhos queimam
Meu rosto quente, sintoma de febre
Dor!
Sinto você distante, mais que as fronteiras do corpo, te sinto longe em pensamento
Onde está você quando mais preciso de ti?
Mas, garota, quando entrastes no ônibus deixou cair essa receita, que me servirá de afago em meio aos cães que ladram em minha mente incessantemente:

"hidroximetilpropilcelulose, polietilenoglicol, crospovidona, dióxido de silídio coloidal, estearato de magnésio"

Em meio a multidão de novos rostos, posicionados cautelosamente dentro deste ônibus, espero que não lembre do meu semblante
Espero que não tenha esperança alguma, que não deseje me ver mais
Que sinta ódio, raiva, repulsa!
Me rasgue com tuas palavras, fiel!
Destrua-me com teus beijos amargos
Queime-me com teu corpo ardente
E após algumas horas, acaricie-me com a lâmina da faca que carregastes até aqui
Diminuirá minha dor
Acabará com teus receios
Destruirá algo perigoso e escondido dentro de mim
Algo que me intimida e me envolve em medo.
A minha vontade de viver.

- Rodrigo Neves

Funeral

Dê-me uma chance
Farei do teu pedido uma ordem
Transformarei teu fardo, deveras pesado, em algo leve, sem cor e sem reações
Me transformarei em tempo, perdido, que se esvai como borboletas na imensidão do céu
Farei do teu pedido minha realidade
Farei da tua vida a minha morte

Não lhe apontarei arma alguma, pois a mesma já está engatilhada há anos e voltada para meus miolos
E os jogos da madrugada, entre soluços e sangue, tiram-me o sono
Atirarei agora ou depois? Pescoço, peito ou cabeça?
Devo realmente tirar algo tão precioso em segundos tão vagos?
Traga-me uma faca, pontiaguda, bem afiada, quero que cada palavra dita forme uma letra
E em meio a tantas tragédias, só lhe deixo um único recado, formado com cada letra escrita em minha pele branca e surrada:

"Fostes a imensidão do meu querer
O desejo mais profundo de vida
O suspiro que me afogou, neste mar de rosas, compradas pra você.
Deseja-me e me trai, assim como fiz, tempos atrás, naquele sofá frio
Um hino de perdão ressoará pela imensidão vazia do teu quarto, quando pensar em mim
Uma lembrança vaga do mar não lhe servirá de consolo, quando sentir meu toque
Em distância, chorará cada noite por ter me perdido
Mas eis que, farei passo a passo o teu desejo, trazendo teu orgulho acima de minha cabeça."

Um último adeus não servirá de consolo para mim,
Mas meu terno de gala, acompanhado da realeza, com tantas flores coloridas e um coro de sofrimento, te fará lembrar, pela eternidade, o quanto te amei.

- Rodrigo Neves

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Tarde demais

Parabéns!
Com teu talento, em meio a estes lençóis de seda, conseguiu me destruir novamente
Interrompeu todo o ciclo a ser criado, e ajudou minha decepção a se tornar ácido em meus pulmões
Minha tosse não cessa, meus olhos não cerram, corre cocaína em minhas veias

Escrevo sem parar, palavras sem sentido, frases sem conclusão
Subo a escadaria, apreciando cada detalhe entalhado no corrimão
Eis que chego ao vigésimo andar, sinto a brisa do mar me tocando, meu corpo transpirando, não apenas suor, mas transpirando vontade de pular
Todos meus investimentos empregados pra chegar até aqui
Cinco minutos de reflexão, um cigarro queimando levemente a ponta dos meus dedos
Várias opções e a dificuldade, a falta de reação, o desejo de expectativa.

Respiro fundo, dou um último trago...

...Dou meia volta e sigo caminhando pelo mundo, sem rumo, sem sentido
Cada vez mais ferido, por ter visto teu olhar no reflexo do sol tocando o oceano
Amarei e odiarei, cada dia mais, o teu sorriso

- Rodrigo Neves

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Jogo de palavras

O descompromisso me ataca
Tusso sangue
A disritmia corre cada veia, fazendo com que eu me jogue ao chão de tanta dor
As lágrimas me acompanharam por essas 12 quadras
Doze! Somente doze quadras matando-me lentamente
A culpa, a falta, o medo, a saudade, o sangue correndo pelas curvas dos meus lábios.

Queria ter lhe dado esse anel antes de morrer, amor
Queria ter lhe abraçado com mais força durante o trabalho, amigo
Queria simplesmente ter feito tudo certo, pra que o fim não fosse algo categórico aos teus olhos.

Sinto pena
Sinto dor
Sinto tudo
Sinto nada
Sinto
Não sinto
Esquina
Saudade
Tristeza

Jogos de palavras que correm meus pensamentos, como em um último pedido de misericórdia, enquanto peço-lhe pra abrir meus olhos
Não quero despedir-me, mas devo, agora, por uma última vez
Só não esqueça de todas as vezes que eu disse "eu te amo"

- Rodrigo Neves

domingo, 9 de dezembro de 2012

Proporção

A normalidade escassa foge do véu, rasgado pela luz
Tuas palavras vãs servem-me como uma faca, acariciando meu rosto com sua lâmina
Com pesar que digo cada palavra, repetidamente, olhando nos teus olhos.
Minha vontade já não é mais a mesma, e o fato de segurar o choro, em meio a meus sorrisos amargos, mata-me por inteiro
Onde está, doce menina? Fostes embora sem ao menos dar-me o beijo tão esperado por semanas
Deixou o acaso dominar nossas coincidências, e a extensão dos tecidos mudar sua opinião.

Sinto-me traído pela minha própria face, sem valor, ao deparar-me com meu semblante semi-morto ao espelho.
A proporção de um fim foi maior que a esperança de um final feliz, e hoje, mato meus anseios, sem pudor e sem medo
Deixe-me aqui, prefiro morrer lentamente, e não receber uma lágrima sequer de troco
Jogue-me a solidão, sei que ela cuidará bem de mim, enquanto apodreço ali, sentado naquela esquina, esperando você voltar.

- Rodrigo Neves

domingo, 2 de dezembro de 2012

Não há perdão

Tivestes tempo de abraçar
Tivestes tempo de viver, de correr, brincar, beijar, sorrir, sofrer, amar.
Desperdiçastes o mesmo ao relento
Ao som de uma batida inexistente do teu coração, que por fim, tornou-se nódulo corrosivo ao teu semblante.
Fostes traída por teu próprio orgulho, por tua própria indecisão.
Levastes contigo a pior parte de mim. Meus anseios e minha frieza serão parte profunda da tua injúria, e serás infeliz, quem sabe, assim como eu.
Desejo-te sorte e muitos corações partidos pelo caminho, serás aprendiz, da arte que me queimou um dia, obtentora de inveja e soluços desperdiçados neste mar de solidão.
Sejamos realistas, a vida é uma viagem ridícula, sem destino traçado, eis que nós criamos, em nossa mente, uma realidade alternativa. Realidade escrota! Sem meias palavras e sem um aperto de mão de outrem, parabenizando nossas vitórias, no entanto, as derrotas servirão em investimento, pra uma vida mais curta.

- Rodrigo Neves