quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Funeral

Dê-me uma chance
Farei do teu pedido uma ordem
Transformarei teu fardo, deveras pesado, em algo leve, sem cor e sem reações
Me transformarei em tempo, perdido, que se esvai como borboletas na imensidão do céu
Farei do teu pedido minha realidade
Farei da tua vida a minha morte

Não lhe apontarei arma alguma, pois a mesma já está engatilhada há anos e voltada para meus miolos
E os jogos da madrugada, entre soluços e sangue, tiram-me o sono
Atirarei agora ou depois? Pescoço, peito ou cabeça?
Devo realmente tirar algo tão precioso em segundos tão vagos?
Traga-me uma faca, pontiaguda, bem afiada, quero que cada palavra dita forme uma letra
E em meio a tantas tragédias, só lhe deixo um único recado, formado com cada letra escrita em minha pele branca e surrada:

"Fostes a imensidão do meu querer
O desejo mais profundo de vida
O suspiro que me afogou, neste mar de rosas, compradas pra você.
Deseja-me e me trai, assim como fiz, tempos atrás, naquele sofá frio
Um hino de perdão ressoará pela imensidão vazia do teu quarto, quando pensar em mim
Uma lembrança vaga do mar não lhe servirá de consolo, quando sentir meu toque
Em distância, chorará cada noite por ter me perdido
Mas eis que, farei passo a passo o teu desejo, trazendo teu orgulho acima de minha cabeça."

Um último adeus não servirá de consolo para mim,
Mas meu terno de gala, acompanhado da realeza, com tantas flores coloridas e um coro de sofrimento, te fará lembrar, pela eternidade, o quanto te amei.

- Rodrigo Neves

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