quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Aquele móvel frio


Sua falta de interesse nas arestas me fez perder a atenção pelo todo.
formas e figuras que um dia se completavam, hoje não passam de meros traços em uma folha rasgada.
e o que um dia foi sua inspiração, hoje é esquecido.
o traçado perfeito cria um vão. a cor, antes forte, já não passa de um mero borrão.
As letras que formavam nossos nomes em meio à este arco-íris de palavras obsoletas, hoje são trocadas por números e marcas de borracha de segunda mão.
O móvel que um dia possuiu nosso cheiro, nossos fios de cabelo e nossas noites de amor, hoje é apenas um emaranhado de tecido e madeira, deixando solidão e lembranças dolorosas neste quarto.
A voz, antes minha inspiração, se transforma em um eco, que segue pela eternidade gritando. gritando, gritando, gritando, dizendo adeus.
uma única e última vez irei ouvi-la em desespero, chamando meu nome nesta madrugada fria.
Oh céus, dê-me solidão! dê-me um pouco menos dela e um pouco mais de mim mesmo.
Traga-me a inspiração que um dia existiu. traga-me mais de mim, em uma bandeja com laços de fita amarrados nas arestas! pra que algum dia eu me interesse pelo todo novamente.

- Rodrigo Neves.

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